DEMARTINI, Zeila de Brito Fabri. Infância, Pesquisa e Relatos Orais In: FARIA, Ana Lúcia G. de; DEMARTINI, Zeila de Brito F.; PRADO, Patrícia Dias (Orgs.). Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas, SP: Autores Associados, 2009, p.1-17.
O texto aborda a respeito dos desafios quando se lida com crianças, as relações entre pesquisa e infância e também sobre a importância de aprender a ouvir crianças e jovens.
A primeira preocupação da autora foi levar ao leitor a reflexão sobre os conceitos de criança e infância, salientando que há diferentes tipos de criança e de infância, como também em relatos sobre crianças, sobre infância e relatos da própria criança.
Dentre estes conceitos o que vem sendo menos discutido é o relato pelas próprias crianças, sendo este de grande potencial para as pesquisas, pois elas possuem uma capacidade de memória e de linguagem extraordinárias, e essa atividade de escuta reforçaria a sua identidade em relatar suas próprias vivências e experiências.
Outra questão enfatizada no texto é a falta de interesse da Sociologia em se estudar o universo infantil, partindo do pressuposto de que toda criança é igual abordando-a de forma genérica e esquecendo-se que cada criança tem sua especificidade.
A autora diz que há uma nova possibilidade em pesquisa com crianças e ainda pouco explorada, partindo da análise da representação artística das mesmas, seja no campo da observação dos relatos ou em suas atuações nas várias manifestações artísticas como teatro, cinema e televisão.
Com relação à coleta dos relatos ela faz alusão da entrevista com crianças, em que se faz necessário dar importância as conversas preliminares ao invés de seguir o roteiro de entrevista propriamente dito, como também manter uma relação de confiança deixando-as livres para escolherem se desejam ou não participar da entrevista.
A autora finaliza seu texto afirmando que a análise desses relatos pelas crianças é o maior desafio do pesquisador.
O texto reforça uma questão essencial na área da pesquisa em educação que é a escuta sensível do pesquisador sobre a opinião e o relato das crianças. Em suma, costuma-se olhar a criança apenas como um “objeto” da pesquisa e as análises são feitas dentro da visão do adulto esquecendo que a criança pode participar como sujeito demonstrando seus sentimentos, desejos e opiniões acerca de suas experiências no mundo em que vive, seja ele a escola ou a própria sociedade.
Esse texto é interessante para pesquisadores nas áreas de Sociologia, Educação e Psicologia, também para estudantes das áreas das Ciências Humanas e demais interessados na área da infância.
A autora do texto, Zeila de Brito Fabri Demartini, é professora colaboradora da pós-graduação em educação da UNICAMP (GEPEDISC), pesquisadora do Centro de Estudos Rurais e Urbanos da Universidade de São Paulo (USP), pesquisadora do CNPq e professora doutora da Faculdade de Educação da Universidade Metodista de São Paulo. Defendeu em 1979 sua tese de Doutorado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas na Universidade de São Paulo cujo tema é Observações sociológicas sobre um tema controverso: população rural e educação em São Paulo e, em 1984 escreveu o artigo “Velhos mestres das novas escolas: um estudo das memórias de professores da Primeira República em São Paulo” publicado em Cadernos CERU, n. 19, pp. 197-205.
Gina Morais Silva, pós-graduanda do Curso de Especialização em Educação Infantil pela Universidade de Brasília e professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.