sexta-feira, 15 de julho de 2011

Resenha do Estudo 2: Infância e Educação no Brasil – Um campo de estudos em construção.


QUINTEIRO, Jucirema. Infância e Educação no Brasil: Um campo de estudos em construção. In: FARIA, Ana Lúcia G. de; DEMARTINI, Zeila de Brito F.; PRADO, Patrícia Dias (Orgs.). Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas, SP: Autores Associados, 2009, p.19-47.

            O presente texto é fruto de um trabalho apresentado na 24ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPED) no ano de 2001, na sessão especial organizada pelo GT 07 cujo título era “Infância e educação: abordagens metodológicas na pesquisa educacional”.
 Tem por objetivo discutir aspectos teóricos e metodológicos da pesquisa com a infância baseado na perspectiva sociológica tentando compreender quais as concepções de mundo e de escola que as crianças possuem. Além disso, busca contribuir no processo de formação de professores dando enfoque numa perspectiva de cultura da infância sendo a escola um espaço privilegiado para o mundo da criança. O texto foi dividido em três seções possuindo ao todo vinte e oito páginas.
            A autora inicia o texto contextualizando a dificuldade encontrada na pesquisa quando a criança deixa de ser o “sujeito” e passa a ser o “objeto” da mesma, sendo apregoada a idéia de que a “criança pobre” é a culpada pelo fracasso da escola pública.
            Há uma abordagem a respeito da vasta produção sobre o tema infância no campo da educação em nosso país, porém há poucas produções no que se refere às culturas infantis. Isso se deve ao pouco espaço destinado as falas das crianças e quando a mesma aparece é considerada sem importância.
            Encontram-se ainda muitas barreiras sobre a confiabilidade e a respeitabilidade do testemunho infantil nas pesquisas no campo da sociologia, mesmo a etnografia e a história oral serem reconhecidas como recursos metodológicos eficientes na análise do ponto de vista das crianças.
            Na primeira seção intitulada “A emergência de uma sociologia da infância na Europa”, a autora reflete sobre a necessidade de uma sociologia da infância, considerando a criança como um ator social, selando um novo paradigma para o estudo da infância.
            A etnografia é o recurso metodológico ideal para esse novo tipo de construção social da infância, objetivando a criação de vínculo do pesquisador com o pesquisado para que haja uma melhor apreensão das falas da criança e uma análise profunda das relações entre educação e infância.
            Na segunda seção cujo título é “Contribuições teóricas acerca da infância no Brasil numa perspectiva sociológica”, a autora faz uma crítica no campo da Sociologia sobre o olhar do pesquisador em ir mais além da descrição das condições sociais do sujeito da pesquisa e emergir na cultura da infância estabelecendo relações entre o fenômeno histórico e a estrutura social.
            Faz um elogio a Antropologia que vem tentando articular em suas pesquisas a educação, infância e alteridade e critica também a Psicologia que vê a criança como um ser a - histórico.
            Na terceira e última seção, “Implicações metodológicas sobre a infância na escola” discute as relações entre educação, infância e escola e demonstra o quanto a criança está sendo excluída dentro de um espaço que era para ser dela, ou seja, a própria escola.
            Para investigar tal fenômeno é necessário que a pesquisa abarque uma série de elementos constitutivos da história da infância, da pedagogia e da escola entendendo que tanto a criança como a escola são representações sociais construídos através de um processo histórico.
            Para isso é necessário cautela do investigador tanto do ponto de vista conceitual como do ponto de vista metodológico, sendo a etnografia caracterizada como o recurso metodológico mais adequado para captar as ideias contidas na fala das crianças e a observação mais detalhada sobre os fatos dentro do âmbito escolar.
            Assim, percebemos o quanto a fala das crianças é um importante recurso para uma análise mais detalhada das relações implicadas dentro da escola. Um fenômeno que nos chama a atenção é a questão colocada pela autora a respeito das múltiplas repetências que a criança muitas das vezes passa durante o seu período de permanência na escola, em que no texto foi apresentado não como um problema meramente social, mas sim com certa culpa dos professores.
Essa questão é muito mais profunda do que imaginamos e é claro não pode ser esgotada em apenas um artigo, porém devemos analisar essa afirmação com bastante cuidado, pois temos sim um problema social quando percebemos o afastamento da família no processo de aprendizagem do filho, ou quando o aluno mostra desinteresse pelas aulas e até mesmo, pelo que considero o mais grave, quando o aluno percebe que não precisa mais estudar e se dedicar para ser promovido para a série ou ciclo seguinte.
No futuro esse aluno considerado “pobre” terá que competir em uma sociedade capitalista com os alunos que estudaram em escolas privadas de qualidade, que tiveram que se dedicar e estudar para conseguir passar de ano e então na hora de uma disputa de vaga pelo emprego os alunos dedicados irão conseguir a vaga e o outro continuará marginalizado e excluído socialmente.
Temos que pensar sim em uma sociedade mais justa, com oportunidades para todos, mas não podemos esquecer-nos de nossa função social de formadores de cidadãos que possam ter um futuro melhor, e para isso a dedicação é necessária.
A leitura do texto é importante para pesquisadores nas áreas de Sociologia, Educação e Psicologia, também para estudantes nas áreas das Ciências Humanas e demais interessados na área da infância.
Jucirema Quinteiro é graduada em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Santa Catarina; doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP; professora do Departamento de Metodologia de Ensino do Centro Ciências da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Catarina, linha de Educação e Infância; coordenadora do Grupo de Estudos sobre Educação, Infância e Escola – GEPIEE. Escreveu em 1998 o livro “A realidade das escolas nas grandes metrópoles” pela editora Loyola e em 2005 publicou um artigo intitulado “A participação da criança como Tema Transversal do Currículo: um desafio nas séries iniciais” na revista Espaço Acadêmico nº 52, set/2005.
Gina Morais Silva, pós-graduanda do Curso de Especialização em Educação Infantil pela Universidade de Brasília e professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.